SUA FOME É REAL?
Eu estava na correria de um dia daqueles - em que as coisas brotam travestidas de urgentes - quando bateu aquela vontade louca de uma recompensa. O famoso eu mereço...
Minutos antes haviam me falado da tal padaria, disseram que lá vendia o melhor croissant de Brasília, com receita original e fermentação natural.
Enquanto eu aguardava na sala de espera para fazer uma bateria de exames, a todo instante, o tal sininho da recompensa tocava na minha cabeça.
Peguei o celular, joguei o nome dela na internet e bingo! – a padaria estava a menos de 150 metros do local dos exames, daria para ir a pé sem que precisasse tirar o carro do estacionamento.
Mas auto lá!
Apesar do jejum, eu não estava com fome... Fechei o site e fui ler uma revista... Nem preciso te dizer que a primeira página tinha a foto de uma cesta de pães com croissants brilhantes saltando aos meus olhos. E logo meu querido diabinho sabotador sussurrou: - Você esqueceu a marmita em casa, vai ficar na rua muito tempo, tirou uns 10 tubinhos de sangue e ainda vai fazer exames de imagem... E se você passar mal na rua?
Lá fui eu novamente fuçar na página da tal padaria artesanal...
Havia um salmão defumado servido com cesta de pães pretos e azeite especial, talvez fosse uma troca interessante, logo pensei. E juro, cheguei a sentir o sabor do pão, a casca crocante e o miolo de alvéolos grandes com sabor amendoado e levemente ácido da fermentação natural. Estava quase convencida de que valia a pena e já estava namorando a sobremesa quando me chamaram.
Os 30 minutos que se passaram dentro da sala foi de uma longa conversa entre o meu sábio anjinho e o endiabrado sabotador sobre ceder e não ceder. As notícias sobre os exames não foram tão boas, rapidamente pensei, mais um motivo para ir até lá.
Saí decidida, alegando que afinal de contas eu estava com o corpo ótimo, e que ninguém precisaria saber do ocorrido, essa seria a minha refeição “lixo”. Na hora que fui pisar na faixa de pedestres (aqui as pessoas param de verdade) um “fiu, fiu” me acordou desse turbilhão de sins e nãos que estava vivendo.
Rapidamente, após o “fiu, fiu” seguido de um “gostosa”, que me fez rir, eu relaxei, e meus neurotransmissores me deram uma descarga do mais fabuloso quarteto fantástico: dopamina, serotonina, oxitocina e endorfina; o que bastou para que a ferramenta PG (perdas e ganhos) entrasse em ação e me chamasse à consciência.
Sim, o corpo que já chamava a atenção era meu, e eu o conquistei a duras penas, vencendo batalha por batalha, dia após dia.
Além do mais, a questão aqui não era poder ou não poder comer. Era algo mais profundo que só quem é compulsivo sabe: eu queria descontar minha ansiedade na comida. Queria comer escondida, como se fosse algo proibido. Provavelmente nem iria sentir muito o sabor, comeria por desequilíbrio...
Independente de qualquer coisa, quando eu insisto com as pessoas dizendo que não se trata de ter ou não a tal “força de vontade”, é sobre isso que quero falar. Nós precisamos de processos que levem a retomada de consciência, precisamos de ferramentas para deixar o dia fluir sem a pressão da ansiedade e da recompensa por merecimento. O compulsivo é testado diariamente. E a compulsão alimentar não anda sozinha, muitas vezes vem junto com a compulsão por compras (compramos até urubu voando e depois nem usamos ou nos arrependemos).
Isso tudo desencadeia uma série de outros sintomas como problemas de saúde e até certo mau humor e falta de tolerância a críticas... E o pior, ao comermos por compulsão criamos uma ponte que nos liga muito rapidamente ao sistema de recompensa e fica difícil voltar aos eixos. Nessas horas apelamos pra tudo: tpm, depressão, metabolismo lento (acreditamos nessa verdade para justificar o fato de não querer mais voltar para o plano alimentar), entre outras boas desculpas...
Que fique claro, há dias em eu como fora do meu plano alimentar, mas como de maneira consciente, sem contar carboidratos ou calorias e, principalmente, sem culpa – e por ser uma decisão sensata a sensação de derrota não acontece e eu volto à minha rotina logo em seguida, porque comer limpo já virou um hábito tão natural quanto caminhar. Mas antes desse dia chegar, o caminho foi de muitos altos e baixos até que eu aprendi que comida de verdade, comprada no açougue e no hortifruti, podem saciar e trazer prazer - desse dia em diante, tudo ficou mais simples de entender.
Minutos antes haviam me falado da tal padaria, disseram que lá vendia o melhor croissant de Brasília, com receita original e fermentação natural.
Enquanto eu aguardava na sala de espera para fazer uma bateria de exames, a todo instante, o tal sininho da recompensa tocava na minha cabeça.
Peguei o celular, joguei o nome dela na internet e bingo! – a padaria estava a menos de 150 metros do local dos exames, daria para ir a pé sem que precisasse tirar o carro do estacionamento.
Mas auto lá!
Apesar do jejum, eu não estava com fome... Fechei o site e fui ler uma revista... Nem preciso te dizer que a primeira página tinha a foto de uma cesta de pães com croissants brilhantes saltando aos meus olhos. E logo meu querido diabinho sabotador sussurrou: - Você esqueceu a marmita em casa, vai ficar na rua muito tempo, tirou uns 10 tubinhos de sangue e ainda vai fazer exames de imagem... E se você passar mal na rua?
Lá fui eu novamente fuçar na página da tal padaria artesanal...
Havia um salmão defumado servido com cesta de pães pretos e azeite especial, talvez fosse uma troca interessante, logo pensei. E juro, cheguei a sentir o sabor do pão, a casca crocante e o miolo de alvéolos grandes com sabor amendoado e levemente ácido da fermentação natural. Estava quase convencida de que valia a pena e já estava namorando a sobremesa quando me chamaram.
Os 30 minutos que se passaram dentro da sala foi de uma longa conversa entre o meu sábio anjinho e o endiabrado sabotador sobre ceder e não ceder. As notícias sobre os exames não foram tão boas, rapidamente pensei, mais um motivo para ir até lá.
Saí decidida, alegando que afinal de contas eu estava com o corpo ótimo, e que ninguém precisaria saber do ocorrido, essa seria a minha refeição “lixo”. Na hora que fui pisar na faixa de pedestres (aqui as pessoas param de verdade) um “fiu, fiu” me acordou desse turbilhão de sins e nãos que estava vivendo.
Rapidamente, após o “fiu, fiu” seguido de um “gostosa”, que me fez rir, eu relaxei, e meus neurotransmissores me deram uma descarga do mais fabuloso quarteto fantástico: dopamina, serotonina, oxitocina e endorfina; o que bastou para que a ferramenta PG (perdas e ganhos) entrasse em ação e me chamasse à consciência.
Sim, o corpo que já chamava a atenção era meu, e eu o conquistei a duras penas, vencendo batalha por batalha, dia após dia.
Além do mais, a questão aqui não era poder ou não poder comer. Era algo mais profundo que só quem é compulsivo sabe: eu queria descontar minha ansiedade na comida. Queria comer escondida, como se fosse algo proibido. Provavelmente nem iria sentir muito o sabor, comeria por desequilíbrio...
Independente de qualquer coisa, quando eu insisto com as pessoas dizendo que não se trata de ter ou não a tal “força de vontade”, é sobre isso que quero falar. Nós precisamos de processos que levem a retomada de consciência, precisamos de ferramentas para deixar o dia fluir sem a pressão da ansiedade e da recompensa por merecimento. O compulsivo é testado diariamente. E a compulsão alimentar não anda sozinha, muitas vezes vem junto com a compulsão por compras (compramos até urubu voando e depois nem usamos ou nos arrependemos).
Isso tudo desencadeia uma série de outros sintomas como problemas de saúde e até certo mau humor e falta de tolerância a críticas... E o pior, ao comermos por compulsão criamos uma ponte que nos liga muito rapidamente ao sistema de recompensa e fica difícil voltar aos eixos. Nessas horas apelamos pra tudo: tpm, depressão, metabolismo lento (acreditamos nessa verdade para justificar o fato de não querer mais voltar para o plano alimentar), entre outras boas desculpas...
Que fique claro, há dias em eu como fora do meu plano alimentar, mas como de maneira consciente, sem contar carboidratos ou calorias e, principalmente, sem culpa – e por ser uma decisão sensata a sensação de derrota não acontece e eu volto à minha rotina logo em seguida, porque comer limpo já virou um hábito tão natural quanto caminhar. Mas antes desse dia chegar, o caminho foi de muitos altos e baixos até que eu aprendi que comida de verdade, comprada no açougue e no hortifruti, podem saciar e trazer prazer - desse dia em diante, tudo ficou mais simples de entender.


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